Clevane Pessoa de Araújo Lopes
DIRETORA REGIONAL DO InBRasCI,
http://clevanepessoa.net/blog.php
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http://clevanepessoa.net/blog.
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ARABESCOSArabescos
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Para Enedy Fassheber de Miranda Sá (D.Didi)-(*)
Algumas vezes, deixo meu portão destrancado,
para ver quem ousa sem entrar sem bater,
quem chama com voz alegre por meu nome,
quem bate almas, ou tiquetaqueia com a aldrava,
Observo atenta, curiosa, zelosa,
se algum amigo do alheio pula o muro,
se algum vizinho encosta o rosto à cerca,
para saber de minha vida tão mera e comedida.
Muitas vezes, deixo aberta a porta de minha casa,
as janelas, para que o sol adentre e clareie naturalmente
os cômodos, os bronzes, os espaços,
para que as plantas de interior recebam luz,
para que minha alma se alegre - às vezes danço
confesso , ao receber por visita, dona Lua...
Um gato passeia, qual um lorde elegante, pelo muro amarelo.
Meu cãozinho se irrita e late, pois quer reinar sozinho.
Moro sozinha, mas bem acompanhada pelos fantasmas queridos,
pelas lembranças,pelas saudades ,pelos versos que pululam
quais filhotes,em meu colo cheio de livros.
Sinto-me gestante de tudo e de nada,
pela acumulada memória de quem , qual Pablo Neruda,
pode confessar essa verdade inconteste:vivi, vivi, vivi...(**)
Da rede clara, vejo o ritornello do beijaflor irisdiscente,
e as borboletas aos pares, a adejar perto das flores.
Um som característico mostra-me que passa um avião.
lembro-me imediatamente de D.Didi, que em Juiz de Fora,
no seu chalézinho florido, ouvía-os, parava qualquer conversa
e então desejava muito bom pouso e boa viagem,
ao piloto e ao co-piloto, às aeromoças e passageiros.
Jamais esqueci essa lembrança linda da velha senhora
e agora que sou sexagenária -"sexygenária",
dizem os filhos em conforto e consolo-
quando vejo passar o avião, repito mentalmente
tudo isso que ela dizia em voz alta.
Ainda não sou tão livre que posso exclamar
tudo que penso...Mas tão logo passa a poderosa máquina ,
olho o céu e digo então, baixinho, às nuvens,
que levem, para essa bem idosa e encantadora senhora ,
grávidas de saudade, todo o meu afeto de filha emprestada pela vida
e que chovam sobre sua alma jovem,
todo o amor de quem aprendeu tantas coisas com a velha amiga,
quando era ainda mocinha e tinha tanto a aprender...
(*) D.Didi , mineira de Juiz de Fora, onde a conheci, mãe de meu amigo Claudio Augusto de Miranda Sá, mora agora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Para Enedy Fassheber de Miranda Sá (D.Didi)-(*)
Algumas vezes, deixo meu portão destrancado,
para ver quem ousa sem entrar sem bater,
quem chama com voz alegre por meu nome,
quem bate almas, ou tiquetaqueia com a aldrava,
Observo atenta, curiosa, zelosa,
se algum amigo do alheio pula o muro,
se algum vizinho encosta o rosto à cerca,
para saber de minha vida tão mera e comedida.
Muitas vezes, deixo aberta a porta de minha casa,
as janelas, para que o sol adentre e clareie naturalmente
os cômodos, os bronzes, os espaços,
para que as plantas de interior recebam luz,
para que minha alma se alegre - às vezes danço
confesso , ao receber por visita, dona Lua...
Um gato passeia, qual um lorde elegante, pelo muro amarelo.
Meu cãozinho se irrita e late, pois quer reinar sozinho.
Moro sozinha, mas bem acompanhada pelos fantasmas queridos,
pelas lembranças,pelas saudades ,pelos versos que pululam
quais filhotes,em meu colo cheio de livros.
Sinto-me gestante de tudo e de nada,
pela acumulada memória de quem , qual Pablo Neruda,
pode confessar essa verdade inconteste:vivi, vivi, vivi...(**)
Da rede clara, vejo o ritornello do beijaflor irisdiscente,
e as borboletas aos pares, a adejar perto das flores.
Um som característico mostra-me que passa um avião.
lembro-me imediatamente de D.Didi, que em Juiz de Fora,
no seu chalézinho florido, ouvía-os, parava qualquer conversa
e então desejava muito bom pouso e boa viagem,
ao piloto e ao co-piloto, às aeromoças e passageiros.
Jamais esqueci essa lembrança linda da velha senhora
e agora que sou sexagenária -"sexygenária",
dizem os filhos em conforto e consolo-
quando vejo passar o avião, repito mentalmente
tudo isso que ela dizia em voz alta.
Ainda não sou tão livre que posso exclamar
tudo que penso...Mas tão logo passa a poderosa máquina ,
olho o céu e digo então, baixinho, às nuvens,
que levem, para essa bem idosa e encantadora senhora ,
grávidas de saudade, todo o meu afeto de filha emprestada pela vida
e que chovam sobre sua alma jovem,
todo o amor de quem aprendeu tantas coisas com a velha amiga,
quando era ainda mocinha e tinha tanto a aprender...
(*) D.Didi , mineira de Juiz de Fora, onde a conheci, mãe de meu amigo Claudio Augusto de Miranda Sá, mora agora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Belo Horizonte, 2004
(**)Referência ao Livro de Pablo Neruda:"Confesso que Vivi"
(**)Referência ao Livro de Pablo Neruda:"Confesso que Vivi"
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